João17:6,9
Liderança, no reino de Deus, não tem a ver com domínio, mas com serviço altruísta. O fazedor de discípulos é alguém que vive para fazer outros crescerem.
Por duas vezes, em Sua prestação de contas, no capítulo 17 de João, Jesus refere-se aos Seus discípulos como propriedade do Pai: “Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra… É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus”.
Esta percepção é fundamental no exercício de um discipulado saudável. Na ótica de Jesus, liderar homens (pessoas) não tem a ver com dominar sobre eles, mas com guiá-los à maturidade para que prosperem no plano de Deus.
Como refletimos no discipulado anterior, o espírito de manipulação é como uma praga sempre ameaçadora à vida da igreja. Ela só precisa de uma brecha para estabelecer-se. E a única forma de contê-la é sustentar e transferir adiante a ideia de que o modelo mais nobre de liderança é a liderança servil.
Ainda que digamos “Fulano é meu discípulo”, precisamos guardar a consciência de que, na verdade, formar vidas é um exercício de mordomia, ou seja, lideramos pessoas para ajudá-las a cumprir a vontade do Pai, e não a nossa.
Ao dizer “aqueles que me deste… porque são teus”, Jesus estava na verdade devolvendo talentos, agora multiplicados, ao Seu Senhor. Essa é a grande missão do discipulador.
Quando assumimos que as vidas que Deus nos dá a discipular são propriedade dEle, obrigamo-nos a valorizar tais pessoas. Não importa que características tragam, se nos agradam ou não com seu jeito, é nosso papel assumi-las como preciosidades, uma vez que reconhecemos a quem, de fato, elas pertencem e aí lapida-las para crescerem, frutificarem, reproduzindo o aprendizado prático na vida de outras pessoas.
De vez em quando somos surpreendidos com a notícia de que um objeto qualquer foi arrematado num leilão por uma verdadeira fortuna. O que justifica tanto valor, se um exatamente igual ou até melhor pode ser comprado a preço razoável, na loja da esquina? Quase sempre a supervalorização daquele item se deve à pessoa famosa a quem ele pertenceu. Uma chuteira do Pelé, uma guitarra do Elvis Presley ou uma caneta do Nelson Mandela sempre valerão mais do que o similar que se compra no mercado.
Agora, aqui não estamos falando de objetos e nem de donos famosos. No discipulado, tratamos com vidas humanas cuja propriedade pertence a Deus, adquiridas pelo precioso sangue da Cruz!
A consciência de mordomia e um dos maiores aliados de um fazedor de discípulos. Saber que as pessoas não são propriedade sua o ajudará a formá-las com a atitude correta.
Valorizar as pessoas pelo que elas “são”, e não pelo que “parecem ser”, é uma marca dos grandes líderes! Quando vemos Davi dispondo-se a investir num bando de marginais, na caverna de Adulão, podemos achar que ele entrou numa barca furada. O currículo daqueles elementos não era nada inspirador. Diz a Bíblia: “Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens” (I Samuel 22:2).
Entretanto, um líder com visão de Deus consegue ver a preciosidade das pessoas que o Senhor lhe dá, mesmo que elas estejam em estado bruto. Foi dali que Davi forjou os valentes do exército que se tornaria a base de sustentação do seu reino.
Um líder de visão consegue enxergar a preciosidade das pessoas, mesmo quando elas ainda estão em estado bruto. Os doze de Jesus não foram recrutados nas escolas rabínicas de Jerusalém e nem eram líderes reconhecidos, Chegaram à Sua presença desqualificados, sem nenhuma experiência espiritual e com uma mentalidade a ser completamente mudada. Por que Jesus os assumiu como equipe? Porque entendeu, em Seu coração, serem eles os homens que o Pai Lhe estava dando para formar.
Jesus simplesmente encontrou homens, na rota por onde estava pregando, desafiou-os à fé e lançou sobre eles o convite para segui-Lo. Os que disseram “sim”, Ele assumiu como discípulos que o Pai Lhe deu.
Discípulos servem aos seus líderes; não há o que discutir. Isso faz parte do processo de treinamento e do caminho de prosperidade para suas vidas. Josué ficou conhecido como “o servidor de Moisés”, antes de se tornar seu sucessor. Eliseu “deitava água nas mãos de Elias conforme diz em I Reis 3:11, antes de herdar porção dobrada da sua unção. A essência do discipulado, entretanto, não é forjar homens e mulheres que me sirvam, mas homens e mulheres que sirvam a Deus comigo e para muito além de mim.
Líderes mal-intencionados ou mal preparados podem usar seus liderados para satisfação dos próprios caprichos, vaidades ou interesses e isso é uma usurpação, diante de Deus.
A consciência de que discípulos pertencem a Deus nos ajudará a resistir à tentação de manipulá-los conforme nossa própria vontade.
Outra implicação da consciência de que discípulos são de Deus e não nossos é a convicção de que prestaremos contas do que fizermos com eles. Era isso que Jesus estava fazendo em João 17 e é isso que faremos um dia, quando estivermos diante do Senhor.
Cabe-nos, portanto, discernir o propósito de Deus para suas vidas e ajudá-los a cumprir sua carreira, adestrando-os da maneira correta, a fim de devolvê-los, não mais como matéria bruta, mas como pessoas buriladas na fé, prontas para frutificarem.
O bom discipulador é aquele que discerne o chamado de seus discípulos e os prepara para cumpri-lo se tornando um cooperador com a vontade de Deus na vida daqueles discípulos.
Há uma grande diferença entre o líder que quer servir-se do discipulado e o líder que quer servir através do discipulado. Um quer ser destino, o outro quer ser ponte. O primeiro busca subserviência, o outro oferece inspiração.
Quando Jesus devolveu ao Pai os discípulos que a Ele pertenciam, agora amadurecidos pelo Seu investimento, não nos deixou outra alternativa. A tarefa do discipulado só pode ser cumprida com excelência por líderes-servos que dão suas vidas para formar e entregar a Deus aqueles que são de Deus.
O verdadeiro líder espiritual quer ser ponte, e não destino, na vida de seus discípulos. Seu propósito é servi-los, para que estes cresçam ampliando àquilo que confiou em suas mãos, para que dê continuidade, sendo sucessores fiéis, mesmo depois que este discipulador, líder, passar o seu cajado. Por outro lado, o discípulo que entendeu o seu papel, estará junto com o seu líder para ajuda-lo na sua missão diante de Deus.
Continua…